Discente: Giovanna Juliani Sofiatti
Orientador(a): Profa. Dra. Michele Lacerda Pereira Ferrer
Colaboradores(as): Profa. Dra. Etienne Larissa Duim, Prof. Dr. Nivaldo Carneiro Júnior
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Introdução: Na velhice morar sozinho ou acompanhado pode ser uma escolha ou uma condição necessária pan a sobrevivência. No Brasil, 15,3% das pessoas idosas moram sozinhas, ou seja, residem em domicílios unipessoais (Negrini et al., 2018). As condições socioculturais e econômicas interagem com os processos biológicos ao longo da vida, e podem, em algum grau, determinar resiliência ou até vulnerabilidade na velhice (Rodrigues NO et al., 2012). A Classificação Internacional de Funcionalidade,Incapacidade e Saúde (CIF) tem como principal objetivo proporcionar uma linguagem unificada para a descrição de saúde e de estados relacionados à funcionalidade (CIF, 2004). Contribui para um olhar ampliado aos determinantes de saúde e funcionahdade ao propor um modeb biopsicossocial, classificando as funções e estruturas do corpo, identificando potenciais de atividades funcionais e participação social associados aos fatores pessoais e ambientais (OMS CIF, 2020). Desta forma, analisar como estão as pessoas idosas que moram sozinhas quanto a funcionalidade pode permitir identificar aspetos fundamentais a serem alvos de políticas públicas no Brasil.
Objetivos: Este estudo teve como objetivos descrever o perfil funcional e as necessidades de saúde e barreiras e facilitadores ambientais de pessoas idosas que moram sozinhas e analisar os fatores associados a maior chance de vulnerabilidade social entre essas pessoas.
Método: Estudo transversal com dados coletados a partir do banco de dados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) com os dados do inquérito de 2019-2021, que contou com 6.867 pessoas com 60 anos e mais. A variável de interesse foi construída a partir da variável“número de pessoas por moradia”, sendo considerado “morar só” quando havia registro de 1 pessoa no domicílio. Já as variáveis independente consideradas foram selecionadas de acordo com os domínios do modelo biopsicossocial da C lassificação Internacional de Funcionalidade (CIF). Para analisar a condição das pessoas idosas que moram sozinhas em relação à vulnerabilidade funcional as variáveis do questionário ELSI foram relacionadas às questões do Vo/nerab/e úfders Surrey-13 (VES13). O VES-13 é um teste de rastreio desenvolvido com a finalidade de identificar pessoas idosas vulneráveis, sendo estabelecidos como critérios para definir vulnerabilidade funcional idade avançada, limitação para realização de atividades de vida diária (AVD) e mobilidade, restrição de atividades instrumentais de vida diária (AIVD) e percepção subjetiva de saúde negativa (MAIA et al., 2012). Foi realizada análise descritiva da variávelmorar sozinho com as variáveis de interesse de acordo com o modelo biopsicossocial da CIF. Para a análise dos fatores associados ao aumento da vulnerabilidade social foi realizada uma análise multivariada.
Resultados: A descrição do perfil funcional e a identificação de necessidades de saúde através da CIF, bem como, a análise da condição das pessoas idosas que moram sozinhas em relação à vulnerabilidade funcional, por meio de variáveis selecionadas do ELSI e relacionadas ao VES-13, sendo posteriormente codificadas pela CIF, pode indicar como vivem as pessoas idosas que moram só e o que as diferencia das demais. Observou-se que das 6.867 pessoas idosas entrevista das pelo ELSI, 24,1% relataram morar sozinhos, sendo destes 62,5% são mulheres, com média de idade de 71,1 anos. Importante apontar que destes, 16,1% tinham 80 anos ou mais no momento da entrevista, 52,8% com dois a quatro filhos vivos, 16,4% ana lfabetos e 46% deles relataram sentimentos de solidão, identificou-se também que 50% das pessoas idosas que moravam sozinhas relataram percepção subjetiva de saúde como excelente. Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos quando rela cionados a função e estrutura do corpo, exceto para audição, sono e memória. Já as pessoas idosas que moram sozinhas parecem ter prejuízo maior da participação social em relação à caminha da, participação em programas e atividades sociais Em rela ção a fatores ambientais, o que diferenciou as pessoas idosas que moram sozinhas e pessoas idosas que moram com outras pessoas em relação à barreiras foram: não participar de programa público, não receber ajuda e não ter profissional de saúde referência. As barreiras ambientais caracteriza das por dificuldade de acesso a serviços de saúde, domiciliar, entorno, falta de apoio estã o mais associadas com dificuldades funcionais de pessoas idosas que moram sozinhas. Já aquelas pessoas idosas que moram só, porém que apresentam maior funcionalidade espera-se que tenham mais facilitadores do que barreiras. Por meio de análise bivariada observou-se que a categoria que teve mais fatores de atenção associados ao aumento da vulnerabilidade em pessoas idosas que moram só foram os fatores ambientais, principalmente rela ciona dos a acesso a serviços públicos e a rela ções interpessoais. No modelo de análise hierarquizada, cada bloco é avaliado em sua completude, com ajuste mútuo entre as variáveis. Observou-se que pessoas idosas que moram sozinhas podem ter uma chance de aumento de vulnerabilidade se forem homens (OR 1,95), tiverem histórico de quedas no ano anterior (OR 2,64), relatarem queixas de memória (OR 2,04), relatarem dificuldade para acessar transporte público (OR 8,64), dificulda de de caminhar e medo de atravessar a rua (OR 1,93).
Conclusão: As pessoas idosas que moram sozinhas participantes do estudo ELSI, uma amostra probabilística da populaçã o brasileira tem o perfil predominantemente do sexo feminino, de cor branca, aposentados, com média de idade de 71 anos, tendo de dois a quatro filhos e em sua grande maioria possuem algum nível de escolaridade. As pessoas idosas que moram sozinhas percebem que as principais barreiras estão relacionadas a violência, etarismo, discrimina ção e falta de confiança por parte de pessoas próximas. Portanto, este estudo aponta a necessidade de intervenções intersetoriais que promovam análise de variáveis e destas demandas, com a finalidade de reduzir a vulnerabilidade funcional de pessoas idosas. Essas necessidades, apontadas aqui como barreiras, devem ser consideradas para a melhoria de políticas pensadas em demandas de saúde das pessoas idosas, principalmente, daquelas que moram sozinhas.
Palavras-chave: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF); Envelhecimento; Vulnerabilldade